Todo o homem é um ser em caminho. Esta sua
característica exprime-se e alimenta-se quer na viagem existencial de cada
pessoa, que percorre um itinerário ao longo do seu tempo de vida com todas as
vicissitudes que o marcam, quer nas múltiplas viagens que ela realiza pelas
estradas do mundo, por necessidades e interesses vários.
Um dos motivos para a viagem é a fé. O homem
põe-se ao caminho à procura de Deus ou atraído para o encontro com Ele, como
diz uma inscrição na basílica de S. João de Latrão, em Roma: Tu atraíste-nos
para Ti, Senhor, e inflamaste os nossos corações. Quando o peregrino parte
movido pela fé, animado de verdadeiro espírito religioso, em resposta a um
apelo e impulso divinos, então podemos dizer que ele faz uma “santa viagem”.
Com o seu acto adora a Deus, põe-se à escuta da sua voz, manifesta o seu amor e
a sua fé para com Deus e cultiva a sua espiritualidade.
Este tipo de viagem, a peregrinação religiosa, é
uma constante na história da humanidade e da Igreja. É motivada pelo fascínio
exercido pelos lugares santos ou pela esperança de ver satisfeito algum desejo
ou aspiração pessoal, de natureza espiritual ou de outro âmbito, como, por
exemplo, a saúde. Frequentemente, o peregrino leva no coração a gratidão por
alguma graça alcançada ou o desejo de cumprir determinada promessa que fez a
Deus ou ao santo da sua devoção.
Normalmente, os santuários são a meta das
peregrinações religiosas. Eles surgem na sequência de alguma manifestação
sobrenatural, como no caso de Fátima, ou resultam da iniciativa de homens
fiéis, que quiseram consagrar a Deus, a Nossa Senhora ou a algum santo da sua
devoção um determinado lugar, com a finalidade de aí prestar culto e invocar os
favores celestes. Pelos acontecimentos e graças que neles se verificam, os
santuários são memória viva da manifestação de Deus e das maravilhas que Ele
ali realiza em favor dos seus fiéis; são também sinal da Sua proximidade e
disponibilidade para os homens, beneficiados com os dons espirituais que
recebem; tornam-se igualmente lugares de esperança para alívio e consolação das
tribulações e anseios humanos.
A peregrinação, enquanto acto religioso em
direcção a um lugar sagrado, constitui um memorial dos acontecimentos e graças
de Deus que nele se realizaram. Torna-se, com frequência, para muitos
peregrinos, experiência da presença e acção de Deus junto dos que nele confiam.
E dá corpo à súplica confiante e humilde de ajuda e acção de graças mediante
atitudes, gestos e palavras.
Padre
Dr. Jorge Guarda, Vigário Geral de Leiria-Fátima
Nenhum comentário:
Postar um comentário